Como as liberdades morrem?

29 mar Como as liberdades morrem?

Os autores Steven Levitsky e Daniel Ziblatt, dois professores de Harvard, lançaram em 2018 a obra “Como as democracias morrem”, traçando parâmetros objetivos para entender o processo de erosão das democracias liberais. Parafraseando o título, importa a nós pensar como as liberdades individuais morrem. A arte nos dá pistas da resposta.

 

Duas obras conhecidas trataram de forma distópica a morte das liberdades, de forma antagônica: 1984, de George Orwell, e Admirável Mundo Novo, de Aldous Huxley. Ambas foram publicadas durante períodos de instabilidade política e forte controle estatal (1984 foi lançado em 1949, durante a guerra fria, enquanto Admirável Mundo Novo em 1932, no período pré segunda guerra mundial), de forma que puderam pôr um olhar artístico nos acontecimentos políticos de suas vidas.

 

Em “1984”, George Orwell traça as bases de um Estado totalitário. O indivíduo é constantemente vigiado pelo Big Brother, cujo objetivo é manter o sistema político cuja coesão interna é obtida não somente pela opressão, mas também pela construção de um idioma novo e totalitário. Não seria possível, portanto, criticar o governo ou instaurar quaisquer divergências políticas, por sequer haver palavras para descrever tais movimentos. É a supressão total de qualquer anseio por liberdade.

 

Em Admirável Mundo Novo, por sua vez, Aldous Huxley descreve um mundo onde a liberdade é algo que simplesmente não faz sentido. O avanço tecnológico permitiu que as classes fossem divididas logo na gestação: os bebês são confinados em máquinas, que determinam, através de processos bioquímicos, a quais classes pertencerão. Por exemplo, um bebê pensado para trabalhar terá aversão a qualquer tipo de leitura e conhecimento, enquanto terá maior massa muscular e predisposição para trabalhar longas jornadas. São programados para sentir asco das primeiras habilidades, e prazer nas segundas. Não haveria liberdade porque o futuro já estaria biologicamente pré-programado, sem que o Estado tivesse que exercer um controle da vida cotidiana do cidadão.

 

Ainda que ambos autores se valham da tecnologia a serviço do Estado, a primeira obra aniquila a liberdade individual pelo terror psicológico promovido pelos Governos, enquanto a segunda garante a ordem pela definição das classes e dos humores através do controle da natalidade. Formas distintas e distópicas de encerrar o capítulo da humanidade chamado autonomia e livre determinação.

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FONTES:

Como as democracias morrem – Steven Levitsky e Daniel Ziblatt, 2018, Ed Zahar.

1984 – Gerge Orwell, 2004, Ed. Companhia Editora Nacional

Admirável Mundo Novo, Aldous Huxley, 2019, Ed. Biblioteca Azul